domingo, 25 de setembro de 2011

O Último Post

Deveria ter aproveitado mais.

Isso deve passar pela cabeça de todos nesse momento. 

Deveria ter visto mais pores-do-sol e mais luas cheias. 

Ter dançado quando senti vontade sem me preocupar com o que as pessoas iriam pensar, deixando minha timidez de lado.

Poderia ter amado mais. Deveria ter deixado que outros me amassem. 

Deveria ter chorado mais. As lágrimas que eu conti, o sentimento que eu não demonstrei apenas feriram mais o meu coração.

Provavelmente não deveria ter dado ouvidos para a maledicência. Teria conservado muitos amigos.

Não deveria ter falado tudo o que pensava. Algumas coisas poderia ter guardado, não teria machucado outras pessoas. Teria poupado sentimentos alheios. Teria poupado os meus sentimentos.

Entendo, enquanto conto as batidas cada vez mais espaçadas do meu coração, que meus valores eram nobres, mas não precisavam ser obrigatoriamente o de todos, e em que escala eu os pesei para garantir que eles eram tão “nobres” assim?

Poderia ter acreditado mais em Deus. Não gritando aos Céus, não participando de reuniões com outros crédulos, não dividindo palavras do seu livro apócrifo. Apenas crendo que existe um Ser que é supremo. Sua obra esta diante dos nossos olhos e nos envolve. Buscamos Deus entre as nuvens e Ele esta às vezes sentado à nossa frente, conversando conosco, apenas não O vemos e não acreditamos ser Ele. 

Será que Ele vai me acompanhar?

Deveria ter odiado menos. Ódio foi o copo de veneno que quis que meus inimigos tomassem, mas quem se embebedou dele foi apenas eu.

Talvez, devesse ter aproveitado mais tempo lendo, estudando, aprendendo uma outra língua. Conhecer pessoas de outras culturas teria sido uma maneira de ver o mundo por outros olhos.

Quem sabe, poderia ter visto mais filmes e principalmente mais comédias. Teria rido mais e meus dias teriam sido mais divertidos. 

As tristezas teriam menos espaços para preencher.

Não sei quanto tempo mais me resta, mas gostaria que houvesse tempo para ter conhecido mais lugares, ter viajado mais, visto as coisas que eu apenas vi em livros e na tv. 

Ter caminhado pelos bosques, nadado nos rios, subido nas montanhas.

Poderia ter enfrentado mais desafios. Não ter fraquejado para sair da minha zona de conforto. Ser mais corajoso.

Enfim... 

No fim, terei que reunir toda a minha pouca coragem, porque a jornada à minha frente, inevitável, que agora não poderá ser agendada para outro dia, não terá uma desculpa, não irá acontecer na “próxima segunda-feira”.

Me despeço, desejando tanto. 

Será que todos se despedem assim?

É um mundo maravilhoso, deveríamos aproveitá-lo mais.

Aceitar mais, rejeitar menos.

E... Aceito que chegou a hora de aceitar que devo ir, não sinto as batidas do coração, não sinto a respiração. Esses já são pensamentos de quem abandonou com tristeza a vida. Se houvesse uma nova oportunidade, faria diferente...

Adeus.

Um comentário:

  1. Meu caro Pielak,

    Já tinha lido esse texto há tempos, mas cada vez que o revisito, penso mais em como levei a vida até aqui.

    Real, profundo, dramático.

    Parabéns!

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